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sábado, julho 26, 2003

O pianista da extrema-direita
(versão 1a - série “artes”)
Teclava única e exclusivamente nas oito teclas do lado direito do piano porque não utilizava os polegares. Recusava-se, ainda, a dedilhar nas restantes e muito menos nas que não fossem brancas.
Compassadamente interpretava-se horas a fio... os quatro dedos da mão direita e os quatro dedos da mão esquerda (que a custo admitia usar) escovavam ritmicamente e em simultâneo as respectivas oito teclas num exercício que nem os ultrapartidários do minimalismo repetitivo ousaram celebrar.
A sua única obra apelidada de Batoito foi toda escrita à mão e nunca ouvida.

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O pianista da extrema-direita
(versão 11b - série “artes”)
Por utilizar as oito teclas do lado direito do piano (não utilizava os polegares, já sabemos!) desenvolveu uma técnica apuradíssima de alternadamente lamber com as pontas papudas o teclado benfazejo.
Primeiro os quatro dedos da mão direita e logo de seguida os quatro dedos da mão esquerda (que a custo admitia usar, já se sabe!) deixavam impressões na alvura das teclas da direita (as únicas necessárias, como sabemos!).
A sua única obra apelidada de Batoito (que foi toda escrita à mão e nunca ouvida, como se sabe) converteu-se, neste caso, em semibatoito ou bate4adividirpor2.
E que interessa saber tudo isto?

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O pianista da esquerda
(versão 24a - série “artes”)
O alter-ego do pianista da extrema-direita num revirar de olhos à esquerda apercebeu-se da ausência de um dos polegares. E os demais ausentes dedos desafiantes, quebrados e turvos, pendiam teimosamente para o lado esquerdo, numa inactividade inquieta. Os outros - os que lhe restavam -, com sorrisos e malabarismos de tecla, mais não faziam do que fustigar os novos hóspedes. Avizinhava-se uma nova composição e isso perturbava-o. Calçou uma luva na ausente mão e aguardou. Impelidos pela batuta dos polegares os oito não se fizeram esperar...
(replagiado dedicado ao comentador Pocti | 22-07-2003 10:00:02)

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O pianista da extrema-direita
(versão 17c - série “artes”)
E o pianista da extrema-direita lá foi concertar.
Pesaroso por não poder usar todas as teclas que o piano lhe oferece. Ser persistentemente de uma extrema-qualquer já era fardo que a algum custo carregava... mas que abnegadamente abraçava. Agora que ao automutilar-se (bem se vê que a mão esquerda) não lhe ocorrera que jamais poderia interpretar as suas tão aclamadas obras... O esgar de dor do ainda macerado coto que o encontro com o teclado produzia era prova bastante que a decepação não fora suficiente para aclamar as suas idiossincrasias.
Valha-nos o ainda teclado exangue...

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O concerto
(versão 20a - série “artes”)
Muito boa noite!
Sejam bem vindos ao Festival de Música João Sebastião da nossa mui estimável cidade.
Dentro de momentos subirá ao palco o aclamadíssimo Bachinas de Cima.
Para desfrutar da sua audição pedimos ao estimado público o favor de desligar todos os aparelhos que enalteçam o seu ego e demais emissores de sinais sonoros. Rogamos ainda que se abstenha de tossir, catarrar e pigarrear.
Não são ainda permitidas outras formas de expressão como sejam o recurso a atentados com artefactos bélicos convencionais, lançamento de petardos, arremesso de objectos ou furto de instrumentos (pelo menos durante o decorrer do espectáculo)...
Muito obrigado!

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O pianista da extrema-direita
(versão 23d - série “artes”)
Comeladeou-se* o pianista da extrema-direita.
Tem agora um piano do tamanho do teclado que sofregamente apalpa (só com a mão direita como é sabido).
A tentativa desesperada - porque infrutífera - de extremar o seu desempenho em prol da sua arte quase o demitia de exercitar-se ao piano.
Transcreveu a sua obra maior (Batoito) para mão e coto e continua assim com um de brincar...
(*de Comelade, Pascal)

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